sábado, 29 de agosto de 2015

Grande Entrevista com o Futuro PM, Costa

Entrevista comigo próprio, originalmente publicada no pasquim neo-liberal pró-austeridade o Observador, feita pelo jornalista Miguel Santos, mas aqui revista e aumentada, com novas perguntas e respostas.

Tenho de começar por aqui: Já fez as pazes com António José Seguro?

Nunca estive zangado com o meu companheiro António José Seguro. Sei que num determinado momento foi necessário apunhalá-lo pelas costas, mas espero que ele tenha compreendido que o que estava em causa era muito importante. Entre a possibilidade de ele ganhar as eleições e a hipótese de eu as perder, não havia alternativa. Tínhamos que dar esperança aos portugueses.

Acha que ele vai votar em si?


Ele não pode votar em si próprio, uma vez que não é candidato. Espero que vote em mim.

Chegou a especular-se que poderia convidar Seguro para integrar a lista de deputados. Acabou por não se concretizar. Existe a hipótese de convidar o ex-secretário-geral do partido para o Governo? Se sim, para que pasta?


Realmente queria convidá-lo e posso dizer-lhe que até cheguei a colar um post-it no micro-ondas com essa ideia que me parecia muito interessante. Infelizmente, não tinha o telefone dele e como a minha vida é muito agitada, acabei por esquecer-me. Foi uma pena. Não sou apenas eu que o digo: É opinião generalizada no partido que o António José seria o candidato ideal para segundo suplente no círculo de Fora da Europa.

Deixe-me acrescentar que também pensei convidar outro ex-líder para fazer parte da lista do distrito de Évora. Até mandei alguém descer a rua e perguntar-lhe se ele queria entrar na lista, mas por azar quem atendeu à porta foi um paquistanês e a comunicação foi impossível.

Sobre a possibilidade de António José Seguro fazer parte do próximo elenco governativo, creio que será uma possibilidade remota. Apesar da mágoa que ele eventualmente possa nutrir por mim, não estou a vê-lo a aceitar um convite de Passos Coelho.

Por falar em Governo, já tem uma ideia de quem vão ser os seus ministros e secretários de Estado? Está a preparar alguma surpresa?


Sim, acho que as pessoas se vão surpreender com alguns dos nomes que conto apresentar para o meu governo-sombra. 

Já escolheu o seu ministro das Finanças?


Sim, escolhi. Como recusou terei que pensar noutro. O que temos neste momento é um perfil para o que pensamos ser o ministro das finanças ideal. Basicamente, tem que ser militante do Partido Socialista e saber fazer contas. Compreendam que a tarefa não é fácil, mas já temos olheiros em todos os distritos e estou convencido que em dois meses conseguiremos encontrar alguém que corresponda ao perfil.

Vai dar a pasta de ministro da Ciência a Alexandre Quintanilha?


Não, vou dar-lhe um relógio. Ele já tem uma óptima pasta da Vuiton.

Quando decidiu avançar para a liderança do partido, fê-lo porque achava que António José Seguro não era o homem certo. Hoje, o PS continua com dificuldades em descolar da coligação nas sondagens. 

É verdade. Convenci-me que ele não era a pessoa certa para levar o partido de volta ao governo. Era indeciso, falava aos solavancos e dançava mal. Ele seria incapaz de ter uma posição coerente neste tema da Grécia, por exemplo. Era um líder muito fraco e as sondagens provam que tínhamos razão. Repare que ainda só lidero o partido há 10 meses e já consigo ter quase a mesma intenção de voto nas sondagens que ele conseguiu em 3 anos..

Tem saudades de ser presidente da Câmara Municipal de Lisboa?

Sim, tenho saudades da Câmara Municipal de Lisboa, onde tenho grandes amigos e onde já não vou há mais de um ano. Da última vez que tentei ir fiquei bloqueado em Alcântara por causa de uma inundação.

A propósito, tem gostado do trabalho de Fernando Medina na Câmara?


Julgo que tem feito um trabalho interessante como substituto e nota-se que ainda não teve tempo para estragar a minha obra. De qualquer modo, recomendar-lhe-ia que não se apegue muito à minha cadeira. 

Voltando às próximas eleições. António Galamba, da ala segurista do partido, disse que falhou em dois objetivos a que se tinha proposto: "unir o partido" e garantir as condições necessárias para vencer as eleições com maioria absoluta. Ficou triste com estas críticas?


Todas as críticas bem intencionadas são de saudar. Porém, é falso que tenha falhado qualquer objectivo, como se comprova pelas sondagens em ritmo ascendente, se as analisarmos no período homólogo com médias móveis e correcção de sazonalidade. 

E o partido está tão unido como sempre esteve, agora apenas reforçado pela necessidade de entendimento comum em torno das minhas ideias. 

Ainda acredita que pode vencer as eleições legislativas? Com maioria absoluta?


São os portugueses que acreditam, como demonstram nas sondagens que vão sendo publicadas e a opinião de alguns especialistas, como o Pedro Adão e Lopes, que é dos mais reputados analistas internacionais em tudologia politica. O país anseia pela mudança à esquerda, quer uma política com ideiais porque está farto de um governo altamente ideológico. 

Começou por se acusado de não apresentar propostas concretas. Agora que tem programa eleitoral, dizem que quer trazer de volta a troika. Acha que os portugueses não entendem o programa do PS? Tem aqui uma oportunidade para explicar claramente as suas propostas...


O programa do PS é muito fácil de entender. Se eu o compreendo, qualquer português pode compreendê-lo. Quando o Mário e o Porfírio me explicaram os principais pontos, entendi logo à 5ª ou 6ª vez. 

Em resumo, o que eles querem, digo, o que nós queremos é baixar a dívida pública, flexibilizar as metas do défice, aumentar os  salários da função pública, aumentar as pensões, reduzir as contribuições para a Segurança Social e baixar o IVA da restauração. 

Acrescento que é absolutamente falso que eu queira trazer a troika de volta. O meu objectivo é justamente voltar aos tempos de antes da troika e não aos tempos de depois da troika. Desse modo, vou reverter todas as políticas que a troika nos obrigou a implementar, voltar a apostar no crescimento, no investimento público, na máquina do estado e no bem estar e felicidade generalizada da população. Diz-se que as pessoas não são números e é verdade, as pessoas não são números, são letras. Embora haja pessoas que são primas e números primos, mas são excepções.

Qual é sua maior arma para vencer estas eleições?


Temos várias armas. Vamos informar os jornais das trafulhices passadas de Passos Coelho, como aquela vez em que não pagou uma multa de estacionamento e um caso gravíssimo de duas senhas de refeição ilegais que recebeu da Tecnoforma. Não sei como é que os portugueses aceitam votar num partido que tenha tido um primeiro-ministro capaz disto.

Mas julgo que o que nos pode dar uma vantagem definiva ao meu partido é a dificuldade de encontrar Memofante à venda nas farmácias.

Depois temos os jornais oficiais do partido.

O Ação Socialista?

Não, isso é só para a Edite se entreter. Referia-me ao Público, ao DN e ao JN.

Se for eleito primeiro-ministro, qual vai ser a primeira coisa que vai fazer?

A primeira coisa que vou fazer é telefonar à minha mãe. A segunda primeira coisa que vou fazer é a rápida instalação de 15.000 novas máquinas de multibanco. Não quero ver em Portugal as filas que vimos na Grécia quando os bancos fecharem. Além disso, os reformados poderão receber as suas reformas no cartão Continente, em vez de ficarem horas em fila para receberem as senhas de racionamento.

A outra primeira coisa que vou fazer, para garantir que temos números fiáveis sobre a situação do país, é extinguir o INE e substitui-lo pelo João Galamba. Ele já é a principal fonte de informação de muitos jornais e ninguém se queixou até hoje.

Depois vamos atacar fortemente o emprego. Tenho um objetivo para os primeiros 6 meses: Quero reverter as tendências de evolução do desemprego para aquelas que tínhamos quando Passos tomou o poder. Para combater o desemprego, começaremos por aumentar o Salário Mínimo para um patamar que nos garante que nenhum português ganhe abaixo da média. 

Poremos em prática várias políticas económicas no âmbito da estímulogia, como recomendam todos os dois prémios nobel, e até o próprio Obama, que recentemente foi ao Quénia reforçar a aposta no quenesianismo. 

Rapidamente, tornaremos a ADSE deficitária, revertendo o que de mau tem sido feito nos últimos tempos.

Vamos baixar o IVA da restauração para 1,5% mas não ficaremos por aqui na ajuda ao sector. Vamos também repor o feriado do Dia da Restauração.

Baixarei também o IVA aos lesados do BES e por fim, vou encontrar a Maddie logo nas primeiras 48 horas após a tomada de posse.

Vamos ser um governo que se pode definir em duas palavras: rigor, estímulo e crescimento. Vamos ser um governo de pessoas empenhadas. Vamos empenhar Portugal.

Há quem duvide da qualidade do estudo que apresentaram, por ser demasiado optimista. Podemos ter a certeza que os números estão certos?

Certíssimos. São previsões feitas por pessoas com provadas dadas, magníficas a manipular informação e a estimar resultados. Por exemplo, posso confirmar-vos que o modelo económico do PS previa a liderança do Arouca à 2ª jornada. A prova definitiva da validade das estimativas.

Sei que a direita diz que Mário Centeno inventou os números do nosso plano macroeconómico. Mas isso é absolutamente falso. Quem os inventou foi o João.

Tem feito algumas promessas que não constavam no vosso programa. Essas promessas não afectam os resultados do modelo?

Afectam. Melhoram. Por exemplo, prometi gastar 1000 milhões em reabilitação urbana. Com o multiplicador, vamos gerar 17.000 milhões de PIB adicional por ano e conseguiremos pagar toda a dívida pública em 16 dias.

Se a isto somarmos a reposição dos 4 feriados, o número de empregos estimados aumenta 13.879, passando de 207.343 para 241.375, deixando o desemprego em 0,426%.

E a recente crise chinesa não poderá trazer consequências negativas para Portugal?

Acho uma vergonha o que se está a passar com a bolsa chinesa. Não permitirei que nada semelhante aconteça em Portugal. Quando for eleito, legislarei para que as ações e obrigações tenham preço fixo.

Mudando de assunto. No Twitter, também fala muito com Porfírio Silva e João Galamba. São eles os seus homens de confiança?

O PS é um partido inclusivo. Preferimos o termo de género inclusivo que é "pessoas de confiança". Mas sim, são pessoas em quem confio. Mais o Mário, que é uma das pessoas mais qualificadas que conheço em inventar números no Excel. O João inventa-os sempre do ar, é menos científico.

Também confio no Sérgio antes do almoço e gosto muito do Eduardo, que tem demonstrado ser um excelente líder parlamentar - ainda ontem alguém do governo me dizia que até no PSD e no PP, todos aplaudiram efusivamente a sua prestação nesta fase final da legislatura. Depois temos o anterior primeiro-ministro e o Vara, que não são propriamente de confiança,  mas pelo menos são homens com fiança.

Também temos muitas pessoas femininas de confiança. Recordo-lhe, por exemplo, a pessoa feminina de confiança Edite, que pensa sempre exactamente o mesmo que eu e a pessoa feminina de confiança Ana Gomes que pensa depois de gritar. Aliás, posso garantir-lhe que o meu governo será paritário: terá um número par de ministros homens e um número par de secretárias mulheres.

Falemos sobre Pedro Passos Coelho. Qual a qualidade que mais aprecia no primeiro-ministro?


Julgo que é mais credível que eu a mentir. As minhas mentiras saem pouco naturais e as dele até parece que são verdade.  É teimoso e resiliente na obstinação, algo que aprecio. Infelizmente, esta insistência no erro levou o país a esta situação. A insistência em ir além da troika, contra todas as evidências, foi um erro que os portugueses terão que aguentar 8 anos. É muito tempo.

Mas na verdade não lhe reconheço muitas qualidades. Repare que tudo é feito em esforço. Veja-se, por exemplo, a dificuldade que teve em tirar Portugal da bancarrota que o meu partido lhe tinha deixado.

Se tivesse que passar um dia com Passos Coelho preferia: 1) Servir-lhe a sua famosa moqueca de camarão; 2) Fazer um puzzle com ele? 3) Ou um dueto numa sessão de caraoque - cantariam o quê?


Teria todo o gosto em servir-lhe moqueca ou outra coisa que ele possa preferir num almoço de tomada de posse do seu governo. Ele que traga as farófias. Mas essa parte de cantar não me agrada, sou um político sério. Prefiro dançar.

Era capaz de comprar um carro em segunda mão ao primeiro-ministro? E ao vice-primeiro-ministro?


Nós no PS pensamos à grande. Se necessitar de um carro, peço um Audi novo ao Zorrinho.

A propósito de Paulo Portas. Sabemos que não está disposto a participar num debate com o vice-primeiro-ministro. Que mal lhe fez Paulo Portas?


Os debates servem para esclarecer o eleitorado acerca da minha razão e da consequente falta de razão do adversário. Os portugueses já sabem que Paulo Portas não tem razão, é um debate desnecessário e que não terei, para poupar o vice-primeiro-ministro de uma humilhação pública irrevogavelmente marcante.

Vítor Gaspar ou Maria Luís Albuquerque? Álvaro Santos Pereira ou Pires de Lima?

João. Porfírio.

Keynes ou Hayek?

Chivas.

Sporting ou Benfica?

Mahindra United.

Voltemos à política. Tem criticado muito a atuação deste Governo nos últimos quatro anos. O que é que Passos não fez mal?

Passos não fez nada que não fosse mal. Trouxe-nos a troika, foi além da troika e foi tão incompetente que até a troika se cansou de aturá-lo e foi-se embora. Apostou na austeridade em vez do crescimento. Todos sabemos que o crescimento é muito melhor que a austeridade, menos ele.

Como consequência dessa opção errada, entrámos nesta espiral recessiva que só vai acabar quando eu chegar ao governo, em 2019. Usou multiplicadores neo-liberais que, como se sabe, não funcionam, ao contrário dos multiplicadores socialistas. Destruiu o Sistema Nacional de Saúde, a Educação Pública, a Segurança Social, o TGV e o Quem Quer Ser Milionário. Não ganhou nenhum festival da Eurovisão e lesionou o Ronaldo no Mundial. 

O governo apostou tudo em descer o défice, mas a dívida não parou de aumentar. Tornou assim claro que se deve seguir o caminho oposto: aumentar o défice para baixar a dívida.

Vendeu as empresas públicas ao desbarato pelo dobro do que exigia a troika, em vez de vender as empresas a bom preço, como eu o teria feito, a desconto.

E agora, com o governo a terminar, perdoe-me a linguagem técnica mas é assim que o João me ensina estas questões, estamos com desemprego meta-assimptótico e exportações em aceleração retro-sinusoidal decrescente ao mesmo tempo que a balança de pagamentos está em desfasamento inconstante permanente sem variação de existências. 

Nao me recordo de nada que Passos tenha feito bem. Veja-se que até apagou Portugal dos noticiários internacionais. Comigo não será assim. Conto trazer Portugal de novo à ribalta. Comigo, Portugal substuirá a Grécia como notícia de abertura dos noticiários em todo o mundo.

Acredita que vai ser capaz de fazer melhor?


Quando acabar o meu mandato, acredito que serei capaz de fazer o país voltar ao estado em que estava antes da vinda da troika.

Tempo de Confiança é o seu mote. Acredita que os portugueses confiam em si?

Têm tudo para confiar em mim. Tenho experiência. Fiz parte do governo de António Guterres e fui número dois de um outro governo.

Acha que ter pertencido ao governo de último governo do PS não o prejudica?

Como já disse, tenho muito orgulho em todos os governos liderados pelo PS, os de Mário Soares, os de António Guterres e os do último.

Como se explica a confusão com os cartazes, que marcou definitivamente a pré-campanha do seu partido?

Correu mal, eu sei, o Ascenso fez muitas aselhices. Por isso fui buscar um Director de Campanha vencedor, o Duarte, que dirigiu a campanha do camarada Manuel Alegre em 2011. Mas também não vale a pena exagerar. Os cartazes não eram assim tão maus. Só nos enganámos no ano, nos números, nas pessoas, nas fotografias e na mensagem. O resto estava mais ou menos.

E os cartazes revelaram mais uma área em que o governo demonstrou a sua incompetência. Por exemplo, aquela senhora desempregada desde 2010. O governo nem sequer conseguiu empregar os desempregados que nós criámos.

Transmitiu uma certa imagem de desorganização e de falta de coordenação ao país, não acha?

Os portugueses não se devem preocupar com isso. Gerir um país é incomparavelmente mais fácil que gerir uma campanha.

A situação financeira do PS pode criar constrangimentos à campanha?

Julgo que não, antes pelo contrário. E os portugueses sabem que o partido está falido mas antes fizemos o mesmo a Portugal. Acaba por ser uma clara prova do nosso patriotismo: primeiro Portugal, só depois o partido.

E a promessa dos 207.000 empregos? É para cumprir? Os portugueses não ficaram desconfiados depois do que aconteceu com o último governo que prometeu criação de empregos?

Para começar, peço-lhes que não se fixem nesse número, 207.000. É um arredondamento. O número verdadeiro é 207.326. Temos experiência no sector. Como bem disse na sua pergunta, prometemos criar 150.000 empregos no último governo capaz que Portugal teve e agora usamos a mesma fórmula. Podem confiar, já foi testada.

Como vamos conseguir? Proibindo os contratos a prazo e aumentando o Salário Mínimo. Temos um estudo feito pelo Porfírio que diz que resulta. Por outro lado, isto não é uma promessa. É um objectivo inserido num compromisso envolto numa projeção ensacada num palpite. O modelo foi feito usando uma ferramenta adequada, o Powerpoint. Não pode falhar.

A propósito: o país está ou não está melhor? As suas declarações em fevereiro, quando discursava perante a comunidade chinesa em Portugal, no Casino da Póvoa, acabaram por provocar alguma controvérsia...

É inacreditável que peguem num discurso que estava a ser feito para enganar chineses e o tragam para a mesa de debate. Sou patriota e se o que está em causa para o bem do país, digo-vos claramente: Aldrabarei chineses tal como aldrabo portugueses. Só não faço o mesmo a paquistaneses porque eles andam desconfiados de nós desde que não lhes ficamos a dever as presenças aos comícios.

Apesar de quatro anos de austeridade, a coligação Portugal à Frente ainda morde os calcanhares ao PS nas sondagens. Se vencer as eleições, mas não conseguir a maioria absoluta, como acha que vai ser trabalhar com Marinho e Pinto? Rui Tavares também pode ser uma hipótese…

Sim posso trabalhar com os dois, o Marinho e o Pinto. O Rui Tavares é que não estou a ver quem é.

Sobre as sondagens, o João explicou-me que os números não reflectem a realidade. Para compreender a verdade, temos que adicionar às nossas sondagens os viúvos e viúvas do anterior líder, os chamados desencorajados, os inativos que são os cidadãos que não fazem nenhum e querem continuar assim, os que passam o dia de esquina em esquina, os chamados activos migrantes e ainda os licenciados em Relações Internacionais e os professores do ISCTE. Com esses números, as sondagens reais são bem diferentes das publicadas e ainda poderemos ser surpreendidos e ganhar.

À esquerda tem ainda Jerónimo de Sousa e Catarina Martins, mas as relações entre PCP, BE e PS não são as melhores. Como é que os três partidos se podem entender?


Já várias vezes tentei estender a mão e chegar a um acordo com BE e PCP. Mas eles são inflexíveis e insistem em não aceitar incondicionalmente todas as minhas ideias.

Pergunto isto, porque tem afirmado que um eventual acordo com PSD e CDS está fora de questão...


Está? Não, penso que eles já têm um acordo entre eles. 

Tem dito várias vezes que agora não é o tempo de discutir sobre as eleições presidenciais. Mas o tema acaba por ser incontornável. Ainda sonha com António Guterres?


É absolutamente falso o rumor de que eu tenha sonhado com o António Guterres, embora já tenha sonhado com a Angelina Jolie e ele tenha aparecido como figurante.

Mas atenção, não me interprete mal. Respeito todas as formas de expressão do corpo humano e todas as tendências. Até tenho um amigo que tem um filho transsexual e quando vamos a um restaurante ele come na mesa com as pessoas normais.

Existe uma ala do partido que não gosta de Sampaio da Nóvoa; e outra, que não se anima com Maria de Belém. E o Doutor António Costa, preferia passar uma tarde com quem?


Passaria uma tarde com alguém que entenda as privações que os portugueses estão a sofrer, graças a esta política ideológica da austeridade expansionista, como a doutora Manuela Ferreira Leite. Se for para jantar, pode ser, aquela loirinha que costuma ir à televisão e que está sempre a mudar de partido.

Também gostaria de conhecer melhor o Professor Sampaio da Nóvoa. Já assisti a vários discursos do Professor e espero um dia não adormecer num deles, pois acredito que o Professor tem coisas muito interessantes para dizer. O que não é o caso da Maria de Belém, diga-se. Mas a Maria teria algumas vantagens. Por exemplo, os discursos de 25 de Abril seriam mais curtos e como ela já é de Belém, até podia fazer a mudança a pé, poupando o erário público. Mas se a Maria de Belém não for a escolhida, tenho uma alternativa para lhe oferecer. Vai para a Santa Casa por Misericórdia.

Agora a sério. Já escolheu quem vai apoiar?

Ainda estou indeciso, mas penso apoiar o PS.

Referia-me à Presidência da República.

Ah, isso. Percebi mal. Como  sou uma pessoa de consensos, já tenho um plano para unir o partido: vou propor Sampaio da Nóvoa a Presidente e Maria de Belém a primeira-dama para os primeiros dois anos. Depois trocam, fica a Maria a Presidente e o Sampaio a primeira-dama. Isto é só para entretê-los até ao Rui Rio tomar posse.

Não prometeu nada a Maria de Belém?

Não, apenas lhe disse que a estimava. Fiz-lhe uma estimativa, não uma promessa.

À direita, a candidatura de Rui Rio parece ganhar alguma força. Gostava mais de vê-lo em Belém, como Presidente da República, ou em São Bento, como líder da oposição?


Sei que não será muito fácil, como líder da oposição, perdão, como primeiro-ministro, queria dizer, ter tempo para poder conviver com os eleitores, mas gostaria de o ver numa festa de aniversário ou na celebração oficial do feriado reposto a 5 de Outubro, se ele me convidar. Também gostaria de vê-lo como eurodeportado. Eurodeputado, quero dizer, eurodeputado.

Também há hipótese de Marcelo Rebelo de Sousa. Chegou a admitir que sempre o admirou. Gostava de ter o professor como chefe de Estado?


Admirava o professor, mas ultimamente não o tenho ouvido. Como sabem, deixei de ver a TVI, depois do acto de censura maligna que praticaram com o nosso Augusto. Aproveitando a deixa, uma coisa posso prometer: assim que for eleito, o Augusto voltará à TVI, substituindo o dito Professor, que passará a ter um programa matinal quinzenal, às quartas-feiras na RTP 2, entre as 6 e as 7 da manhã.

Mudando de assunto. Gostou do festival de Paredes de Coura?

Gostei muito. Tenho um espírito jovem e gosto de me manter informado. Gostei particularmente dos T Mimpala. E a visita foi um tremendo sucesso. A quantidade de jovens que me vieram ver permitiu uma enchente no recinto, o que acabou por beneficiar muito as próprias bandas. Já agora digo-lhe que fiquei muito surpreendido por saber que as bandas que aparecem no cartaz são mesmo as que tocam.

Doutor António Costa, o que faz nos tempos livres?

Como deve compreender, não tenho muito tempo livre. Mas gostava de ver séries e filmes. Gostava da Guerra dos Tronos, mas a certa altura perdi-me. A série tem muitos personagens, todos em guerra uns com os outros. É quase tão complicado como o meu partido.

O nosso tempo está a esgotar-se, mas queria ainda falar brevemente sobre a Grécia. Tem sido acusado de ter uma posição muito titubeante em relação ao Governo de Alexis Tsipras - no Twitter, tem pedido muitas vezes ajuda a Porfírio Silva antes de se pronunciar. Afinal, o Syriza agiu de forma “tonta” ou é a tal “mudança que dá força para seguir a mesma linha"?


A minha posição sobre o Syriza é claríssima. A vitória do Syriza representou um sinal de mudança que nos dá força para não seguir a mesma linha de medidas tontas que têm sido corajosamente defendidas por aqueles irresponsáveis que muito admiramos. Somos totalmente a favor da não renegociação da dívida que é impagável e necessita ser não reestructurada rapidamente. Achamos também que é necessário que a UE ajude o Syriza a cumprir com dignidade o seu mandato e que o Syriza ponha em marcha rapidamente as reformas catastróficas que se impõem.

Apenas uma curiosidade. Os “jovens turcos” do PS agora são jovens gregos? É que a Turquia e a Grécia nunca se deram muito bem…

Chipre é um caso de sucesso na convivência entre gregos e turcos, por exemplo. Os “jovens turcos”, como se costumam designar, são quatro, ou seja, oito mãos. Daí que muitas vezes me refira a eles em italiano como os otto mani. 

A terminar, vai convidar Yanis Varoufakis para o ajudar na campanha?


Admiramos muito o estilo Yanis, a sua liderança eficaz, a forma resoluta como conduziu a Grécia ao sucesso e como terminou a austeridade. Dessa forma, o João e o Yanis estão desde já a preparar o plano B para Portugal, que contamos por em prática ainda antes do Plano A. A primeira medida está já a ser tomada. O João está a aprender a andar de mota. O Partido comprou-lhe uma Macal Minarelli em segunda mão, a crédito, e se tudo correr bem com a aprendizagem do João, em Outubro tiramos as rodinhas.

Uma última pergunta: para onde vai de férias antes da campanha eleitoral?

Gostava de ir a Hobart, na Tasmânia. Tem belas praias e belezas naturais e, curiosamente, está nos antípodas de Évora. Mas como o partido está falido e as eleições estão à porta, vou optar por férias portuguesas. Vou passar uma semana em Lanzarote.

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